Relatos sobre as viagens marítimas entre oceanos do século XVI

Abaixo temos alguns relatos de onde podemos extrair, após o confronto com outros documentos elementos que nos ajudam a compor o cotidiano dentro de uma embarcação marítima.

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Excerto do relato de um espanhol do século XVI chamado Antonio Pigafetta (integrante da expedição marítima comandada por Fernão de Magalhães) publicado na ocasião do seu retorno a Espanha:

"Já não tínhamos mais nem pão para comer, mas apenas o polvo impregnado de morcegos, que tinham lhe devorado toda a substância, e que tinham um fedor insuportável por estar empapado em urina de rato. A [agua que nos víamos forçados a tomar era igualmente pútrida e fedorenta. Para não morrer de fome, cheamos ao ponto crítico de comer pedaços de couro com que se havia coberto o mastro maior, para impedir que a madeira roçasse as cordas. Este couro, sempre ao sol, à água e ao vento, estava tão duro que tínhamos que deixá-lo de molho no mar durante quatro ou cinco dias parar amolecer um pouco. Frequentemente nossa alimentação ficou reduzida à serragem de madeira como única comida, posto que até os ratos, tão repugnantes ao homem, chegaram a ser um manjar tão caro, que se pagava meio ducado por cada um".

AMADO, Janaína & GARCIA, Ledonias Franco. Navegar é preciso. São Paulo: Atual, 1989. p.33, 34.

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Retrato de Cristóvao Colombo por Ridolfo Ghirlandaio, século XVI.

Excerto do diário de bordo de Cristovão Colombo sobre as terras que avistara em outubro de 1492. Muita atenção ao lerem o mesmo, muito porque aquilo que Colombro registra sobre os povos com os quais entra em contato, não podem ser consideradas além das impressões de um julgamento muito mais baseado nas amparências e, sobretudo, nos valores que compõem a análise interpretativa do navegante genovês.

12 de outubro de 1492
Eu me esforcei para conquistar a amizade deles, porque me dei conta de que eles se libertarão e se converterão à nossa santa religião muito mais pelo amor do que pela força. Eu dei a eles algumas pedras coloridas e bolas de vidro que eles colocaram no pescoço, e também outros objetos de pouco valor. Eles ficaram muito felizes com os pequenos presentes. Depois vieram aos navios onde estávamos, nadando. E nos traziam papagaios, e fios de algodão em novelos e azagais, e muitas outras coisas, e as trocavam por outras coisas que lhes dávamos como continhas de vidro e chocalhos.

12 de outubro de 1492
Pareceu-,e que era gente muito pobre. Eles andavam todos nus, inclusive as mulheres, ainda que não tenho visto mais que uma moça. E todas as pessoas que vi eram jovens, não vi nnguém com idade maior de trinta anos. Eram muito bem-feitos, de corpos muito formosos e rostos muito bons. Os cabelos grossos quase como rabos de cavalo, e curtos. (...) Eles não carregavam armas, nem as conhecem, porque lhes mostrei espadas e eles a pegavam pelo fio, e se cortavam. Não têm ferro algum. Suas azagaias são umas varas sem ferro, e algumas têm na ponta um dente de peixe (...). Eles têm boa estatura e boa expressão.

16 de dezembro de 1492
Que suas altezas venham a crer que essas terras são boas e férteis, especialmente a ilha Hispaniola (Santo Domingo). Os índios não têm armas, anda nus e não tem aptidão para a guerra. Eles são propensos a serem comandados e postos a trabalhar, semear e fazer todos os outros trabalhos necessários. Devemos fazê-los criar vilas, onde os ensinaremos a aprender os nossos costumes.

Cristóvão Colombo. Diário de Bordo. Tomo 1, 1492.


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