Feira Cultural - 8º ano: A hora do professor falar.

"Crianças não nascem más
Crianças não nascem racistas
Crianças não nascem más
Aprendem o que
A gente ensina..."
Autoria: Natiruts

Sem duvida desafiador o tema que estamos trabalhando conjuntamente. Como eu venho dizendo o mais difícil de vossas vidas. Mas desta complicada tarefa vamos começar a desembaraçar, puxando um primeiro fio.

Como foi dito em sala de aula e a forma como nós estamos trabalhando cabe dizer antes de qualquer coisa que este Trabalho teve como ponto de partida para se realizar o comportamento que cada um dos alunos e alunas vinham (e vem) tendo um para com o outro, no caso, de extrema intolerância.

A intolerância é um dos efeitos resultantes de pré-conceitos. Um tipo de violência que exclui e agride aquele(a) que é seu alvo; e intenta, sobretudo, colocar o seu autor em condição privilegiada e superior ao outro, sempre o alvo da ação.

Mas se a intolerância é um dos efeitos dos pré-conceitos, como nasceria, então, um pré-conceito?

Antes de responder esta importante questão vamos fazer uma reflexão sobre outras coisas.


Como nós seres humanos significamos as coisas que estão ao nosso redor??? Ou melhor, como fazemos o mundo externo a nós, fazer parte do nosso interior???

Resumindo, significamos tudo o que é externo a nós com palavras. Você olha agora o seu computador. Uma palavra para um objeto. Que está sobre a mesa. Outra palavra que dá nome a outro objeto. Mais interessante é a quantidade de palavras que usei para lhe explicar a questão acima.

E quando nós não vemos o objeto??? Quando ninguém nos falou dele?!?!? O que pensamos sobre o mesmo??? Qual o nome que ele ganhará???

Certamente, tudo o que falaremos, ou imaginaremos sobre este objeto será completamente distorcido. Afinal, o que pensaríamos da cor vermelha se nunca a tivéssemos visto? Qual seria a foto que daríamos ao elefante se não tivéssemos a idéia de como este animal é?

Deste modo e para concluir a nossa reflexão, quando vivenciamos uma experiência com algo, formamos sobre o mesmo um conceito. Por sua vez, quando não temos a experiência com algo, formamos sobre o mesmo, pré-conceitos.





Todos os grupos foram organizados em torno desta conceituação. É claro que ela está bem resumida, pois busca respeitar o desenvolvimento intelectual da faixa etária de vocês, que são minhas alunas e alunos.

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Grupo 1: O Rejuvenescimento dos Heróis.

O Herói não é uma personagem qualquer. Ele não é comum. É fora de série. Os seus atos são sobre-humanos. Em uma narrativa (história) ele é o agente que desenvolve toda trama, logo a personagem principal. Um herói é exemplar, desta forma não somente através dos seus atos, mas, também através de sua conduta ética e moral. Sendo, portanto, incomum, o herói, que é exemplar, é o modelo a ser seguido.

Em todo momento histórico, encontraremos os mais diversos povos, elegendo o caráter que devem ter os seus heróis que servirão de modelo para seu povo.

Deste modo, elegemos dentro do universo de conhecimento dos alunos e alunas, os heróis de histórias em quadrinhos e desenhos animados, tentando demarcar, sobretudo, através da comparação, o rejuvenescimento pelo qual os heróis vem sofrendo com o passar dos anos.

Herculóides: série animada da Hannah Barbera que estreou em 1967 e foi exibida até 1969.

Capitão Planeta: criado em 1990 pelo empresário Ted Tuner, estreou em 1990.
Ben 10: Lançado em 2005 pela Cartoon Network.
 O foco da nossa análise é o espantoso rejuvenescimento do Herói ao longo de algumas décadas. É claro que as produções animadas não possuem todas elas jovens como personagens principais. Também há de se notar que estas produções, cujas personagens são no mínimo adultas, possuem outro público como alvo.

De qualquer forma, optamos por não trabalhar com excessões. Pensamos o nosso trabalho, tendo em consideração  a produção que tem como alvo o público jovem, justamente a faixa de idade onde a construção dos conceitos e opiniões da criança sobre as coisas do mundo (externas a ela) esta em formação.

O notável rejuvenescimento do Herói ao longo das décadas é o resultado de uma cultura que busca na idéia de juventude o seu vigor. Ao mesmo tempo tudo relacionado a ele recebe um valor. Em sentido contrário, tudo que está fora deste modelo é colocado a margem.

À parte da consciencia das crianças, as mesmas deixam de formar importantes conceitos das coisas as quais não estão familiarizadas. Sem vivenciarem outras situações com as narrativas (histórias) contadas pelos desenhos animados, tudo aquilo que está fora dos modelos (propostos pelas animações), são construídos com base em impressões que somente a não experiência é capaz de construir.

Heis que surgem, então, os pré-conceitos sobre tudo aquilo que não aparecem nas animações: o(a) idoso(a), o(a) negro, o(a) diferente, o(a) homossexual, o pobre, etc. De tal forma, se o jovem é ultra-reproduzido, devemos pensar naquilo que não é reproduzido?

Pois é sobre aquilo que não é reproduzido e, por isso, não se tem familiaridade, que os pré-conceitos frutificam. Sem uma vivência com a experiência direta, surgem os pré-conceitos. Deles as mais terríveis formas de crueldade.

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Grupo 2: Modelo padrão e o que está fora do padrão.
Por sua vez, o grupo 2 possui como objeto de análise a Revista Capricho, publicação da Editora Abril, que existe desde 1952 e é direcionada ao consumidor jovem.

Com a revista foi feito um levantamento quantitativo das imagens nela presente e também do teor do seu conteúdo escrito. Espantoso que o modelo padrão proposto pela revista é tão restrito, que aquilo que aparece em suas páginas é predominantemente branco(a), caucasiano(a) e com estrutura física magérrima.

Como este modelo padrão é exaustivamente repetido pela revista é quase impossível esperar outro caminho de instrução educativa do(a) jovem, senão a super-valorização deste modelo único. Ainda mais dramático é tudo aquilo que não é convidado a participar do conteúdo da revista, seja como imagem seja textualmente.

A nossa linha de abordagem, segue então o mesmo eixo de investigação usada para desamarrar o tema Herói. No caso, apresentamos o modelo para mostrarmos tudo aquilo que está a margem do mesmo. Deste modo, sem referências diferenciadas o conceito formado pelo jovem leitor da Revista Capricho é muito restrito.

Como o mundo exterior a Revista excede tudo aquilo que ela de forma restrita aborda, a relação do(a) jovem leitor(a) educado também pela revista, tem grandes chances de ser também restrita. Logo, a Revista não cumpre o papel de formar jovens familiarizados com a diversidade. Ao contrário, restringe e passa como verdade uma visão de mundo, preenchendo-a por um único modelo padrão, oferecido pela revista. Novamente, notamos frutífera a possibilidade do surgimento de pré-conceitos, em causa, daquilo que a revista não proporciona familiarização ao jovem.

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Grupo 3: "Se está a margem, vamos fazer piada!" - Quando o sábio vira um incômodo.
Como encerramento, buscamos encontrar, novamente dentro da cultura, elementos que demonstrem como aquilo que está fora do padrão, fora do modelo, é alvo de uma intolerância e de uma crueldade absurda.

 Esta crueldade, dentre diversas produções culturais, encontra forma, dentre tantos em um gênero muito característico, no caso, a piada.

"Boa Memória
Duas velhinhas bem velhinhas estão jogando sua canastra semanal.
Uma delas olha para a outra e diz:
 - Por favor, não me leve a mal.. Nós somos amigas há tanto tempo e agora eu não consigo me lembrar do seu nome, veja só a minha cabeça. Qual é o seu nome, querida?
 A outra olha fixamente para amiga, por uns dois minutos, coça a testa e diz:
 - Você precisa dessa informação para quando?"

"Pum silencioso?
 Uma velhota, durante a missa, inclina-se e diz ao ouvido do seu marido:
 — Acabo de soltar um pum silencioso. Que achas que devo fazer?
 O velho responde?
 — Agora nada. Mas quando sairmos vamos comprar pilhas novas para o teu aparelho auditivo."

Sentiríamos, certamente, estranheza se tentássemos fazer piada com uma pessoal que perdeu a perna. Do mesmo modo seria de muito mal gosto se ficássemos apontando e fazendo graças com as sequelas de uma pessoal que sofreu Acidente Vascular Cerebral (A.V.C.). Se para nós tudo isto acima parece de extremo mal gosto, porque, então, os(as) idosos(as) são alvos dos mais diversos preconceitos? Porque a perda auditiva, a perda motora, seus hábitos e comportamento, são alvos de tamanha crueldade?

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A conclusão
A resposta não pode ser dada de forma completa, mas podemos dá-la parcialmente.

Vivemos em um mundo organizado pelo trabalho. Desde crianças somos treinados para o mesmo. De tal modo nossos brinquedos e brincadeiras são organizadas incoscientemente ou intencionalmente, para que, venhamos a realizar no futuro as ações que de forma lúdica, na infância, são uma forma de diversão.

Estar treinado para o trabalho significa também mobilizar o corpo e o pensamento. A realização dele exige força física, destreza e disciplina nas ações. O(a) jovem possui todos estes atributos em grande potência. Quando se envelhece perde se naturalmente algumas capacidades ou habilidades. Em alguns idosos e idosas, esta perda é mais acentuada do que em outros. Logo, aquele que era útil enquanto força produtiva, é transformado em "inútil" pela cultura da sociedade.

Assim, aquilo que faz parte de nossa natureza, a cultura contemporânea e capitalista, tende a resignificar aquilo que é natural (envelhecer) como incômodo. Sobre todos os idosos e idosas é projetada, então, uma imagem generalizante e preconceituosa.

Os rótulos (estereótipos) são os mais variados. A "velha surda", "o baile da terceira idade", "o(a) banguela", "a velha que faz fazer tricô", o(a) "velho(a) sem memória", o "estorvo", etc. A natural perda torna-se defeito e o defeito, matéria-prima de piadas.

Sobre este incômodo, habilmente cria-se uma necessidade remediante. Ninguém quer envelhecer, pois isto recebe uma conotação muito negativa culturalmente. De tal modo, cremes rejuvenescedores, cirurgias plásticas, o uso de signos (roupas, acessórios, comportamentos) ligados a cultura jovem, surgem como salvadores, daquilo que se acredita perdido.

Autoria do texto: Profº Alek Sander de Carvalho
Reprodução comercial proibida.

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